Após o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) ter acesso aos aparelhos de celular e computadores apreendidos na casa da deputada federal e pastora Flordelis, outras evidências revelaram o plano para assassinar o pastor Anderson do Carmo, companheiro da parlamentar. Anderson foi assassinado com 30 tiros na porta da casa da família em Pendotiba, Niteroí, em junho de 2019. Na época, Flordelis alegou que se tratava de uma tentativa de roubo, mas segundo o MP, a primeira versão da pastora “derreteu” a partir do avanço das investigações e dos acessos aos dados e mensagens.
Pesquisas como “assassino barra pesada”, “alguém da barra pesada”, “como matar veneno” e “cianeto” em buscadores da internet ficaram registradas nos históricos do celular de Marzy Teixeira da Silva, uma das filhas do casal, além de troca de mensagens que evidenciaram a participação e articulação da morte de Anderson do Carmo por Flordelis. Segundo o promotor Sergio Luís Lopes Pereira, responsável pelo caso, Marzy pertencia à primeira geração de filhos adotivos e estava entre os favoritos da pastora e, por isso, se tornou “uma intermediária” entre ela e o filho biológico Flávio, apontado como o autor dos disparos. “A Marzy é uma das filhas afetivas [não adotada oficialmente] de Flordelis e ela tem muita admiração pela mãe, almeja ser a filha favorita e tem uma fidelidade canina pela Flordelis, embora ela não seja sua mãe adotiva. Sabendo disso, a Flordelis usou muito a Marzy”, disse. Antes de Anderson ser assassinado, as investigações revelaram que Flordelis tentou envenenar o marido, colocando arsênico na comida, ao menos seis vezes.
Na agenda de Marzy, o número de Flordelis era registrado como “minha rainha”. Mãe de 55 filhos, sendo três biológicos e os demais entre adotivos e afetivos, que foram criados pela pastora, mas sem a oficialização da adoção, Flordelis já foi mãe de Anderson do Carmo antes de se tornar sua esposa – ele pertenceu à primeira geração de adotados por ela. Segundo a mãe biológica do pastor, que prestou depoimento na época do assassinato, Anderson se envolveu efetivamente com Flordelis aos 15 anos de idade e passou a viver na mesma casa que ela. “No depoimento da mãe do Anderson, que morreu pouco depois do assassinato dele, ela diz que ele também namorou uma das filhas biológicas da Flordelis, Simone, antes de se envolver com ela e passar a viver como marido e mulher”, diz o promotor.
Imunidade parlamentar
Mesmo diante das investigações, Flordelis segue em liberdade – o que é visto com “preocupação” pelo MP. “A Constituição Federal veda que parlamentares sejam presos durante o exercício do mandato, então estamos obedecendo. Mas é fato que se ela não fosse parlamentar, já estaria presa, porque sobram motivos para decretação da [prisão] preventiva”, afirma o promotor. A deputada já é ré e será julgada em primeira instância junto aos demais acusados, alguns presos na última semana e outros na época da morte de Anderson, pela 3ª Vara Criminal de Niterói. Sem poder pedir a prisão da deputada, a Polícia Civil e o MPRJ pediram à Justiça outras medidas cautelares, que já foram aceitas.
Desde o assassinato de Anderson, 11 pessoas foram denunciadas. Na Operação Lucas 12, deflagrada pelo MP e pela Polícia Civil, Marzy e outros quatro filhos foram presos, além da neta de Flordelis, presa em Brasília. Na casa em Pendobita moravam mais de 30 filhos da pastora. Em reportagem, a revista Veja revelou que a pastora já teria descumprido as medidas judiciais e se encontrado com pessoas envolvidas na investigação, Pereira informou que o promotor da 3ª Vara Criminal de Niterói “já foi informado por ofício do ocorrido”.
Quem são os presos no caso Flordelis
No total, são 11 denunciados no caso Flordelis – dez membros da família e um ex-policial. Um dos filhos adotivos, Lucas Cezar dos Santos, foi preso após o assassinato do pastor, acusado de associação criminosa. Lucas teria facilitado a compra da arma usada no assassinato. O filho biológico, Flávio dos Santos Rodrigues, teve o mandado de prisão expedido na Operação Lucas 12, mas também já se encontrava preso. Ele é acusado como o autor dos disparos. O ex-policial Marcos Siqueira também já estava preso e deve responder por associação criminosa.
Na última semana, foram presos três filhos adotivos, dois filhos biológicos e uma neta de Flordelis, que estava no apartamento funcional da deputada em Brasília. Todos vão responder por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa majorada. Entre os filhos biológicos estão Simone dos Santos Rodrigues, que se envolveu com Anderson do Carmo antes de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, que está preso desde o começo das investigações, e Adriano dos Santos Rodrigues. Já entre os adotivos estão Marzy Teixeira da Silva, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva. À Flordelis e Lucas ainda é imputado o crime de uso de documento falso, por tentarem, através de carta redigida pelo filho, atribuir a autoria e ordem para a prática do homicídio a outras pessoas. Segundo a denúncia, Flávio tinha o objetivo de livrar ele próprio e Flordelis da responsabilização do crime.
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