Pessoas que tiveram contato direto com a lama da barragem de Brumadinho (MG), como bombeiros e voluntários, serão submetidas a exame periódicos para avaliar se foram contaminadas por metais pesados, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ele observou haver risco elevado de o solo também ser contaminado pelo chumbo, cádmio e mercúrio que agora estão presentes nas águas do Rio Paraopeba.
“O monitoramento será feito de forma constante. Não sabemos se por um ano, ou mais. Tudo vai depender da dispersão”, explicou. Também será dada atenção especial para gestantes que vivem na área próxima do acidente para descartar o risco de contaminação e má-formação dos fetos.
Autoridades sanitárias recomendaram que a população que está na região afetada procure atendimento médico caso apresente náuseas, vômito, tontura ou fraqueza. Para Mandetta, a preocupação com sintomas de uma intoxicação aguda é necessária. Mas ele enfatiza também a necessidade de se fazer monitoramento para evitar a intoxicação crônica, um risco presente. “Nesse primeiro momento, certamente ninguém vai fazer uso da água do rio. Mas é preciso verificar o que vai ocorrer com o solo, evitar o consumo de alimentos produzidos ou irrigados na área afetada.”
Laudo de amostras coletadas até o momento identificaram altas concentrações de mercúrio, chumbo e também a presença de cádmio. Mandetta observa que a intoxicação aguda, neste momento, é difícil de ser identificada. “As pessoas vivem neste momento um período de grande desgaste, stress. Os sintomas são facilmente confundidos.”
O cádmio presente na água é cancerígeno. A exposição crônica do chumbo pode provocar anemia, distúrbios neurológicos e renais. Altos níveis de mercúrio no organismo também podem levar a problemas neurológicos, problemas renais e pulmonares. A ação tóxica do mercúrio no sistema nervoso é irreversível.
“As ações de vigilância na região começaram desde o dia do rompimento e serão mantidas até quando for necessário. Com análises periódicas da água e do solo e o acompanhamento do estado de saúde dos moradores”, disse Mandetta.
A contaminação também provocou reflexos na fauna da região. “É preciso acompanhar qual será o impacto dos metais pesados, por exemplo, nos roedores, morcegos e as consequências para o ecossistema”, disse o ministro.
Outra preocupação será com a decomposição de corpos de animais. “Não se sabe qual será o impacto, se haverá propagação de bactérias ou vírus presentes nesses organismos.”
O receio é de que não apenas o solo seja contaminado como o lençol freático. A recomendação é de que população não utilize poços artesianos, apenas consuma água fornecida pela rede de abastecimento.
Na noite de terça-feira, dia 29, o governo de Minas divulgou um laudo que atesta a contaminação do Rio Paraopeba e os riscos à saúde humana e animal.
As análises foram feitas com mostras coletadas entre os dias 25 (quando o acidente ocorreu) e 29. Foram encontrados valores até 21 vezes acima do aceitável de chumbo total e mercúrio total. Também foi constatada a presença de níquel, chumbo, cádmio, zinco no dia 26 em um dos pontos de monitoramento.
Diante dessa situação, o governo de Minas desaconselha o uso da água para qualquer finalidade até que a situação esteja normalizada. A recomendação vale desde a confluência do Rio Paraopeba com o Córrego Ferro-Carvão até Pará de Minas. Deve ser respeitada uma área de 100 metros das margens acometidas.
*Com Estadão Conteúdo
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