O fluxo de pessoas nos ônibus municipais de São Paulo aumentou 20% desde que foi anunciada a reabertura gradual do comércio de acordo com a Fase 2 – Laranja do Plano São Paulo. Segundo a SPTrans, em maio, último mês da quarentena total no município, a catraca do transporte girou cerca de 3 milhões de vezes por dia útil. Agora, esse número está em 3,7 milhões. Em relação ao mês de abril, considerado o mês mais crítico da pandemia, esse crescimento foi de 30%.
A rotina da consultora gráfica Nayara Oliveira, de 25 anos, mudou após descobrir que dois motoristas da linha de ônibus que ela pegava para ir trabalhar morreram vítimas da covid-19. Agora, ela opta por ir a pé até o Metrô para fazer o trajeto entre o Tatuapé, onde mora, e a Avenida Paulista. “Antes eu pegava um ônibus até a estação, porque era mais rápido. Mas fiquei sabendo que dois motoristas acabaram falecendo de covid-19, então fiquei alerta.”
De fato, o fluxo de pessoas no transporte municipal de São Paulo cresceu durante a pandemia já que, mesmo com a paralisação parcial das atividades econômicas, o número de ônibus nas ruas diminuiu. Na última quinta-feira (25), a SPTrans reduziu o número de veículos em atividade para 10.791 ônibus — o que equivale a 84% da frota. Uma das medidas mais criticadas, e que pode ter impactado nesse aumento, foi o rodízio restrito adotado pelo prefeito Bruno Covas. Por uma semana, carros com placa ímpar só circulavam em dias ímpares, enquanto carros com placa par circularam em dias pares. A ideia não deu certo.
Mas não são apenas os ônibus que são alvo das reclamações dos usuários. De acordo com relatos, o Metrô e a CPTM também teriam registrado fluxo de passageiros maior — apesar da STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos) não ter atendido o pedido da reportagem sobre o comparativo dos números de usuários nos trens.
Nayara conta que, antes da flexibilização, ela via muitas pessoas da área da saúde na rua. “Quando eu pegava o Metrô, eu via o pessoal da enfermagem, do hospital. Era bem mais vazio. Hoje, é totalmente diferente. Quando pego o Metrô, tem mais pessoas. O transporte não está cheio, mas tem muito mais gente.”
“Não encosto em nada, em ferro nenhum. Vou de máscara, deixou meu álcool em gel na bolsa, mas vou me equilibrando. Também não sento, mesmo com lugar vazio. E se tem alguma pessoa próxima a mim, dou uma desviada e vou para outro lugar. Vejo que muita gente que se escora, senta e tudo mais, mas eu acabo evitando”, completa a jovem.
Uso de máscaras obrigatório
Desde o dia 3 de maio, a máscara de proteção se tornou item obrigatório para quem transita no transporte público da capital paulista. A estilista e modelista Rita Fontes Pereira, de 57 anos, afirmou que é realmente difícil ver pessoas descumprindo essa regra.
“O que acontece é da pessoa colocar a máscara embaixo do nariz. Mas, agora, tem os guardas do Metrô que olham e verificam isso. Lá não se entra sem. E no ônibus o motorista não deixa entrar sem máscara, pelo menos onde eu moro.”
Ela faz diariamente o trajeto entre a Estação Guilhermina-Esperança e o Brás utilizando ônibus e o Metrô. “Quando veio essa lei de que os ônibus só poderiam sair com os passageiros sentados, continuou todo mundo em pé, um encostado no outro — só tinha que esperar uns cinco ou seis ônibus para entrar. Então eu trabalho, vivo e sobrevivo. É difícil!”
A lei a que Rita se refere foi a determinação da Prefeitura de São Paulo, do início de junho, em que os ônibus só poderiam circular com a capacidade máxima de passageiros sentados. A medida não foi bem aceita e cumprida, e resultou, inclusive, na demissão do secretário de Transportes da cidade Edson Caram. Hoje quem comanda a pasta é Elizabeth França.
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