O ator, diretor, dramaturgo e palhaço Hugo Possolo é o novo diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo. Criador do Grupo Parlapatões, ele assumiu nesta terça-feira (26) as funções, sendo apresentado ao longo do dia aos maestros da casa. Sua nomeação, segundo o comunicado oficial da Secretaria Municipal de Cultura, “reflete um esforço de reconexão com a característica multicultural e popular do teatro”.
A escolha de um nome de fora da área de música e de ópera para dirigir o teatro era vista como possibilidade desde que o novo secretário municipal de Cultura Alê Youssef passou a falar do teatro como um espaço não dedicado exclusivamente à ópera e à música clássica. O próprio texto do anúncio do novo diretor não cita os dois gêneros, preferindo chamar atenção para outro projeto, Novos Modernistas, que contempla uma série de apresentações nos próximos anos em preparação para o centenário da Semana de Arte Moderna, realizado em 1922, no Municipal.
Em entrevista ao ‘Estado’, no entanto, Possolo afirma que “a programação de óperas, concertos e dança segue e será trabalhada em uma visão curatorial. “A ideia é ampliar a programação e estabelecer diálogo com a produção contemporânea. Sobretudo, o projeto Novos Modernistas, que visa trazer ações multiculturais, das mais variadas linguagens artísticas, para se integrarem à programação e, inclusive, dentro de uma construção feita com os corpos artísticos, interagirem com ela”.
Ainda assim, a nomeação de Possolo é simbólica e marca uma mudança de rota para o teatro. Além do foco no projeto Novos Modernistas, que contará com o trabalho de uma comissão especial a ser anunciada pelo prefeito Bruno Covas, o novo diretor artístico vai comandar a ocupação da Praça das Artes, complexo cultural onde funcionam as escolas municipais de música e bailado, ligadas ao teatro – o complexo, construído em torno do antigo Conservatório Dramático Musical e localizado ao lado da Praça Ramos de Azevedo, terá uma nova parte inaugurada no final de março.
O comunicado da secretaria afirma que as ações de Possolo serão feitas “sem prejuízo da programação estabelecida dos corpos artísticos”. Ele, por sua vez, afirma que “a programação planejada para o primeiro semestre segue como prevista”, ainda que ações do Novos Modernistas possam incrementá-las. “Na sequência, vamos desenhar uma nova programação, sempre ouvindo os corpos artísticos do Municipal”, diz.
O teatro, no entanto, até agora não anunciou sua temporada 2019 – no final do ano passado, a agenda ficou presa em um limbo enquanto secretaria e Instituto Odeon, organização social responsável pela gestão do teatro, desentendiam-se quanto à continuidade do contrato estabelecido entre as duas partes. Apenas a produção de O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, apresentada até a semana passada, havia sido confirmada.
A chegada de Youssef à secretaria, no início do ano, manteve, pelo menos a princípio, o contrato com o Odeon. Mas a temporada ainda é uma incógnita. Nos bastidores, falava-se da realização de mais três óperas: Rigoletto, de Verdi (coprodução com o Teatro Colón, de Buenos Aires), Turandot, de Puccini (já apresentada no final da temporada passada) e a estreia mundial de uma encomenda do teatro, Navalha na carne, de Leonardo Martinelli, baseada no texto de Plinio Marcos. Nenhum desses títulos, no entanto, foi confirmado. E, questionado sobre a previsão de anúncio da agenda, Possolo não respondeu.
Imbróglio
O Municipal estava sem diretor artístico desde a demissão de Cleber Papa, em 2017 – a programação vinha sendo montada por um conselho artístico com membros do Odeon e do poder público. O posto, na verdade, é parte de um imbróglio jurídico associado ao modelo de gestão empregado no teatro.
Pelo previsto na lei, a Fundação Theatro Municipal firma, em nome da prefeitura, um contrato de gestão com uma OS (no caso, o Instituto Odeon), que contrata todos os músicos e demais funcionários. Postos como o de diretor artístico e regente titular, no entanto, pertenceriam à estrutura da fundação, cuja função seria ditar os conceitos e diretrizes do trabalho.
Desde 2013, porém, quando o modelo começou a vigorar, não é isso que acontece. Maestros, coreógrafos e o diretor artístico são contratados pela OS, deixando vagos os postos na fundação, invalidando alguns dos processos previstos em seu estatuto e causando confusão na atribuição de responsabilidades. Com Possolo, acontece o mesmo – o Instituto Odeon confirmou que será responsável pelo seu contrato.
Essa duplicidade levou os últimos secretários municipais de Cultura, desde 2013, a defender a revisão do modelo e a extinção da fundação, para que o contrato de gestão seja feito entre prefeitura e OS, sem a fundação como intermediária. Segundo o secretário Alê Youssef, é preciso “avaliar o modelo atual e entender quais ajustes precisam ser feitos”. “Entretanto, nos pareceu fundamental antes de qualquer outra iniciativa, ter uma direção artística para se ocupar da agenda do presente. A nomeação do diretor artístico garante a continuidade das atividades dos corpos artísticos do Municipal, bem como a articulação de novos projetos”.
*Com Estadão Conteúdo
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