quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

‘Encontrei o sentido da minha vida: ajudar pessoas’, diz Andressa Urach, agora assessora parlamentar

A ex-modelo Andressa Urach foi nomeada assessora parlamentar do deputado estadual Sergio Peres (PRB-RS) e vai atuar na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Em entrevista à Jovem Pan, ela contou que vai receber denúncias de violação de direitos para ajudar na criação de projetos de leis.

“Achei uma grande oportunidade para ajudar as pessoas. Estando perto delas, ouvindo o problema, vou conseguir passar relatório para o deputado acompanhar quais são as necessidades [da população] e criar projetos de lei para atendê-las”, disse. A nomeação foi publicada no Diário Oficial em 21 de fevereiro.

Ela ainda falou que encontrou “o sentido da vida” ao ajudar as pessoas e comentou o modo como a indicação foi vista por alguns. “Sempre vão trazer o passado [à tona], isso é muito triste. Eu estou sendo muito mais julgada por estar trabalhando, fazendo o que é certo, do que antes. Eu era uma vergonha e o mundo me aplaudia.”

Andressa ganhou fama por ter sido a vice-campeã do concurso Miss Bumbum em 2012. No ano seguinte, participou do reality show A Fazenda, da Record TV. Em 2014, ela ficou à beira da morte em função de complicações provocadas pela aplicação de hidrogel nas pernas. “Ali, eu morri. Aquela velha Andressa morreu. Busco todos os dias ser melhor.”

Depois de se recuperar, ela passou a frequentar a Igreja Universal, a mesma de Sergio Peres – que também é pastor. Foi por causa da fé que se conheceram. “Eu venho fazendo trabalhos voluntários e o deputado também é voluntário em um desses projetos”, contou. Nessas ações sociais, ela faz palestras sobre a própria história de vida.

“Através dessas palestras, levo esperança. Se eu consegui mudar o rumo em que estava a minha vida, qualquer um consegue”, afirmou ela, que há alguns anos revelou ter se prostituído. Em 2016, Andressa lançou o livro “Morri Para Viver”, em que relata o episódio envolvendo o hidrogel e também fala sobre drogas e fama. Ela tem hoje 31 anos.


Confira a íntegra da entrevista

Como surgiu o convite para atuar como assessora parlamentar?

Eu venho fazendo trabalhos voluntários em ações sociais e o deputado Sérgio Peres também é voluntário em um desses projetos, dentro de um presídio aqui no Rio Grande do Sul. Nós somos da mesma fé. Na campanha [eleitoral], eu ajudei ele. Ele conhecia o trabalho que faço com mulheres que sofreram abuso sexual, psicológico e agressão física. As mulheres assistem a palestras, têm psicólogas, advogadas e todo um acompanhamento. Venho fazendo palestras em presídios, contando a minha história, que é possível recomeçar. E os direitos humanos trabalham com isso. Eu achei [o convite] uma grande oportunidade para poder ajudar as pessoas, porque estando perto delas, ouvindo o problema delas, vou conseguir passar um relatório para o deputado acompanhar quais são as necessidades [da população] e criar projetos de lei para atendê-las.

Qual será a sua função dentro da Comissão de Direitos Humanos?

Esse cargo a que fui nomeada é justamente para ouvir as pessoas. As pessoas chegam aqui, a gente faz esse acolhimento ouvindo elas, faz um relatório escrevendo qual é o direito delas que está sendo violado. Assim, eu encaminho [o documento] para a assessoria jurídica, para que eles façam ofício e encaminhem para os órgãos específicos, de acordo com a necessidade das pessoas. Vou estar aqui para que realmente haja justiça de acordo com a lei. Essa parte burocrática eu iniciei na sexta-feira (22) aqui na Assembleia. Era o mesmo trabalho que eu fazia antes de maneira voluntária.

Você se sente capacitada para exercer esse trabalho?

Sim, com certeza. Estou capacitada sim para exercer essa função. Tenho quatro anos de experiência atendendo as pessoas. Então, um trabalho que eu já fazia de forma voluntária vai ser feito agora dentro da Assembleia, só que agora vou conseguir ajudar realmente as pessoas, porque vou conseguir pensar em projetos de lei para ajudá-las.

Você publicou um vídeo em seu canal no YouTube em que diz que está estudando a Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana. Há preocupação em aprimorar conhecimentos na área?

Estou cursando gestão pública. No ano passado, eu fazia enfermagem, mas achei necessário mudar de curso [diante do novo trabalho]. Prefiro não divulgar o nome da faculdade por questões pessoais. Tento não ficar exposta. Quero ter uma vida normal, fazer o que é certo, ajudar as pessoas. A cada dia, busco ser uma pessoa melhor, principalmente para o meu filho.

O trabalho nos presídios era realizado de que forma?

Faço palestras em presídios femininos, contando a minha história. Conto as escolhas erradas que fiz e [falo sobre] o direito do recomeço. Quando a gente vai em um presídio, vai com a intenção de ressocializar ele [o detendo], para que ele entenda que tem direito a novas escolhas, que mesmo que seja julgado pelo passado, se ele acreditar que ele é capaz, ele é. Através dessas palestras, levo esperança. Se eu consegui mudar o rumo em que estava a minha vida, qualquer um consegue.

Há alguma história interessante sobre esse trabalho, algo que te marcou?

Nos presídios, a gente ouve muitos casos, mas eu vejo que ninguém nasce mau. As pessoas se tornam más pelo ambiente, pela família, por escolhas erradas. É como se fosse uma areia movediça em que um erro vai levando a outro. Muitas das pessoas que estão presas já nasceram no crime. Elas vêm de famílias sem condições financeiras, em que não receberam a orientação que realmente precisavam para que pudessem ter objetivos e oportunidades. Tudo isso começa na infância, na educação, na orientação. Eu vou lá falar para eles que, se eles se arrependerem, se eles abandonarem esses erros, se mudarem o pensamento e as escolhas, vão conseguir fazer uma nova vida.

Nesse voluntariado, você percebe a identificação das pessoas com a sua história?

Eu amo fazer esse trabalho, muito mesmo porque já houve caso de pessoas que receberam meu livro dentro dos presídios, leram a história, se identificaram com as escolhas erradas que eu fiz e hoje decidiram reconstruir suas famílias, trabalhar dignamente. Foi o que eu fiz em 2014, quando passei por um problema de saúde. Ali, eu morri. Aquela velha Andressa morreu. Faz quatro anos que busco todos os dias ser um ser humano melhor, com escolhas baseadas em princípios básicos de valores e família, coisas que antes eu não dava valor e hoje dou. São novas escolhas. Claro que as pessoas sempre vão trazer o passado [à tona], mas isso é muito triste. Eu estou sendo muito mais julgada hoje – por estar trabalhando, fazendo o que é certo, estar ajudando as pessoas – do que antes. Antes eu era uma vergonha para a minha família, para as mulheres, para a sociedade e o mundo me aplaudia. Mas ao mesmo tempo, entendo também essa reação das pessoas, porque antes de me converter, de conhecer Jesus, eu também não acreditava que alguém poderia mudar. Então, é o tempo que vai mostrar se eu mudei ou não. Até porque não estou aqui para provar nada a ninguém. Eu sei que quase morri, com uma infecção generalizada. Estou viva por um milagre. Nestes últimos quatro anos eu tenho vida, paz e meu filho me admira. Eu encontrei o sentido da minha vida, que é ajudar as pessoas.

Você acha que a fé deve interferir em decisões políticas?

A gente tem liberdade para falar da nossa fé. O meu direito acaba quando invade o de outra pessoa. Não estou aqui para discutir as minhas opiniões, estou aqui para ouvir as pessoas e receber denúncias de violação do direito delas. Em direitos humanos, a base é respeitar a dignidade de cada pessoa. Existem 30 artigos que a gente tem que respeitar, independentemente de cor, opção sexual, opinião política, escolhas. Somos livres. Não estou aqui para impor a minha fé a ninguém, pelo contrário. A minha fé mudou a minha vida e isso não é segredo para ninguém, mas isso não tem nada a ver com o meu trabalho.

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