César Augusto Grandchamp, geólogo da Vale, admitiu que não possui especialidade em barragens, mas mesmo assim assinou o laudo que atestou a estabilidade da estrutura que se rompeu em Brumadinho no dia 25 de janeiro, causando mais de 200 mortes.
A afirmação foi feita na última quinta-feira (30) em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
“Eu, como geólogo, não tenho especialidade em barragens. Eu não sou geotécnico em barragens e muito menos especialista na questão de liquefação. Então, eu confio e confiei plenamente na avaliação que foi feita por especialistas da Tüv Süd e pelas equipes da geotecnia corporativa e da geotecnia operacional da Vale”, disse Grandchamp.
O laudo de estabilidade, que deve ser emitido periodicamente, é exigência para que uma barragem continue operando. Ele é emitido após avaliações de uma empresa terceirizada, que deve ser contratada pela mineradora. No caso de Brumadinho, esse trabalho foi feito pela alemã Tüv Süd. O laudo foi emitido em junho de 2018 com duas assinaturas: a do engenheiro Makoto Namba, pela Tüv Süd, e a de Grandchamp, pela Vale.
Geólogo é investigado
O geólogo é um dos 13 investigados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). No depoimento, ele também foi questionado pelo motivo de a estabilidade da barragem ter sido atestada mesmo após as análises levarem ao cálculo de um fator de segurança de 1.09.
Segundo Grandchamp, além do respaldo de equipes que ele considerava de alto nível, o documento foi assinado respeitando norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
“O fator de 1.3 foi colocado como alvo a ser alcançado por aquelas barragens a montante cujo descomissionamento não fosse possível. Não existia recomendação e nem norma dentro da Vale indicando que o fator mínimo aceitável para estruturas fosse esse. Sendo assim, o que devíamos seguir era a norma da ABNT, que diz que o fator de segurança é definido pelo projetista ou pela empresa que está fazendo a auditoria”, respondeu.
O geólogo, no entanto, reconheceu que a única barragem com fator de segurança de 1.09 que ele trabalhou foi a de Brumadinho, embora houvesse outras estruturas com fator de segurança abaixo de 1.3. Entre elas, citou Forquilha I, Forquilha II, Forquilha III, B3/B4 e Grupo. Todas estas estão entre as mais de 30 barragens que foram paralisadas após a tragédia de 25 de janeiro Forquilha I, Forquilha III e B3/B4 estão entre as quatro que alcançaram alerta máximo e apresentam risco de iminente ruptura.
“A equipe de geotecnia corporativa é a responsável pela normatização dentro da Vale. Então, se houvesse uma normatização de que o fator a ser considerado fosse de 1.3, isso viria deles. O relatório passa por eles e é enviado por eles para a minha assinatura”, disse Grandchamp.
O que diz a Vale
Em nota, a Vale afirmou que a declaração de condição de estabilidade (DCE) é elaborada por uma empresa de auditoria externa sob a supervisão de uma equipe de geotécnicos da Vale capacitada para fazer esse trabalho.
“Após receber os estudos das auditorias, os geotécnicos emitem um parecer e o encaminham para o gerente de Geotecnia Operacional, que assina a DCE por parte da Vale. Na ausência do gerente, a DCE pode ser assinada por outro representante legal da área”, diz o texto. Segundo a mineradora, à época do rompimento, a barragem tinha uma laudo válido conforme determina a legislação.
*Com Estadão Conteúdo
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