O fogo na mata expõe uma realidade dolorosa para o pulmão no mundo, a Amazônia. Parte da região agoniza com dados preocupantes: o mês de junho registrou o maior número de queimadas em 13 anos, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ao todo, foram 4.596 focos de incêndio no período. Vale destacar que as chamas em uma floresta tão úmida raramente têm início com uma fonte natural, como por exemplo um raio. Estima-se que algo dessa forma aconteça apenas a cada 500 anos ou mais. Portanto, no território amazônico, todo incêndio começa por ação humana. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) alerta que se os índices se mantiverem pelos próximos meses, a área revelada ao fogo subirá para quase 90 mil quilômetros quadrados, o equivalente a seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo. A diretora de ciências do Ipam, Ane Alencar, acompanha o que acontece na região e chama atenção para o fato de que a maior parte do desmatamento ocorre em terras públicas. “Se a gente pegar hoje, o total de área desmatada até agora, nos primeiros seis meses deste ano, cerca de 50%, ou seja, metade, ocorreu em terras públicas. Sejam florestas públicas não destinadas, áreas devolutas ou áreas protegidas, que são as unidades de conservação e territórios indígenas. Isso quer dizer que 50% do desmatamento por si só é ilegal”, explica.
As queimadas têm relação direta com a estratégia de limpeza do solo para utilização na pecuário e no plantio. No entanto, há alternativas sustentáveis que não agridem o meio ambiente. O projeto Cacau Floresta é um exemplo disto, eles adotaram uma metodologia limpa que tem como transformar áreas degradadas e com forte pressão do desmatamento em agroflorestas, incentivando assim a geração de renda através da agricultura familiar, especialmente nas regiões de São Félix do Xingu, Tucumã e Ourilândia do Norte, no Pará. O vice-gerente de restauração da TNC, Rodrigo Freire, diz que a solução encontrada acaba beneficiando todos os agentes da cadeia. “Encontramos uma equação muito interessante junto a eles, uma equação que responde às demandas econômicas, familiares, sociais, ambientais, inclusive de engajamento de juventude, melhoria da equidade de gênero e segurança alimentar. Conseguindo fazer essa equação, o engajamento dos produtos é muito legal, porque faz sentido pra eles se envolveram nesse tipo de projeto.”
Para impedir o desmatamento e as queimadas, os órgãos fiscalizadores do meio ambiente tem dificuldades de fazer os trabalhos em um território tão extenso. Com isso, as Forças Armadas entram em cena com uma atuação mais efetiva e que torna-se essencial para coibir ilegalidades e dar apoio a outras forças de fiscalização. O tema Amazônia coloca a imagem do país em cheque sob o risco de ser manchada no exterior, especialmente no que diz respeito a fuga de investidores internacionais. Notando essa movimentação, o governo corre contra o tempo para apagar esse incêndio. O vice-presidente Hamilton Mourão enumera algumas iniciativas para tentar estancar os dados. “Vamos buscar reduzir ao mínimo aceitável os índices de desmatamento e queimada, demonstrando com isso para a comunidade internacional e para sociedade brasileira esse nosso compromisso. E deixando claro que desmatamento zero e desenvolvimento econômico não são excludentes”, afirma Mourão, que lidera os movimentos a frente do Conselho da Amazônia. Ele acentua que vê a disposição de diversos países em cooperar com o tema, incluindo discussões sobre a reativação do chamado Fundo da Amazônia.
*Com informações do repórter Daniel Lian
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