terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Cabral diz em depoimento que delatores contaram a verdade: ‘Participei da propina, sim’

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (MDB) afirmou que o dinheiro de propina que os doleiros Renato e Marcelo Chebar disseram ter lavado era realmente dele. “Participei da propina, sim. O dinheiro dos irmãos Chebar era meu dinheiro”, declarou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio.

Na tarde desta terça-feira (26), Cabral ainda declarou que são verdadeiras “99%” das declarações feitas à Justiça por Carlos Miranda, apontado como “homem da mala” do emedebista. Miranda revelou que fez várias operações de recebimento e distribuição de propina, em dinheiro vivo, por ordem do então governador fluminense.

Detido há mais de dois anos, e falando de vício em dinheiro. Cabral afirmou que o ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB), preso no fim do ano passado, também recebeu propina quando era vice e como secretário de Obras. “Ele trouxe com ele o Hudson Braga, que era ‘braço direito’ dele. E sim, também existia a ‘taxa de oxigênio’.”

Segundo Cabral, houve um esquema de propina na primeira fase das obras no estádio do Maracanã, para os Jogos Pan-Americanos de 2007, quando o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) era secretário de Esportes e Lazer. Cabral disse afirmou que arrecadou dinheiro para a campanha do ex-prefeito do Rio por meio de caixa 2.

“Se não me falha a memória, Arthur Soares [conhecido como Rei Arthur, empresário prestador de serviços para o estado] deu, à campanha do Paes, de R$ 3 a R$ 4 milhões e depois reclamou porque serviços não foram dados a ele. Ele colaborou com a campanha e esperava receber contratos. Depois acabou ganhando [a obra] do Centro de Operações.”

“São raríssimos os empresários que deram dinheiro para campanhas eleitorais e não esperavam contratos [públicos como contrapartida]. Todos esperam retorno. No Brasil, isso é uma espécie de ‘toma lá, da cá’. Uma ética de compromisso: você me ajudou, eu vou te ajudar. Não tem nada formalizado, mas está implícito”, confessou.

Cabral disse que também fez questão que o ex-secretário de Paes e atual deputado federal Pedro Paulo (MDB) estivesse junto dele nessas negociações de caixa 2 da campanha de Eduardo Paes. O ex-governador, porém, isentou de responsabilidade sua mulher, Adriana Ancelmo, por negociações criminosas feitas por meio do escritório de advocacia dela.

“Eu contaminei esse escritório quando pedi o repasse de caixa 2 para o dono da Rica. Ela não sabia de nada”, afirmou. “No meu governo, havia promiscuidade entre dinheiro da propina e de campanha”, acrescentou.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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