Das poucas certezas que se tem sobre a pandemia da covid-19, uma delas é a de que nada mais será como antes após a retomada. Um dos setores diretamente afetados pela crise, e que deverá se reinventar, é o da alimentação.
Apesar dos mercados serem considerados serviço essencial, os restaurantes estão sofrendo bastante. Os decretos de quarentena adotados nos estados brasileiros não autorizam a abertura dos estabelecimentos para consumo no local — apenas para drive thru e delivery.
De acordo com estudos da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o grande destaque das vendas na quarentena vai justamente para o delivery: a compra de alimentos e bebidas para consumo imediato cresceu 79%.
O CEO da Menu, aplicativo que abastece os restaurantes conectando os principais distribuidores e indústrias do mercado foodservice, Leonardo Almeida, avalia que o impacto no setor é duro porque os dois principais motores do consumo foram cortados com o isolamento: o horário de almoço das empresas e os eventos — como shows, festivais, jogos de futebol e até mesmo aniversários.
Para se ter noção, cerca de 60% do consumo de comida fora de casa se dá no horário de almoço às segundas-feiras. Os outros 40% se distribuem ao longo dos outros dias da semana.
Para ele, a retomada das atividades prevê uma atenção muito grande para a segurança alimentar. “As pessoas vão refletir mais sobre como se alimentar fora de casa, como nos restaurantes de modelo self service. Não acredito que eles vão acabar, mas novos hábitos serão determinantes.”
“Assim que o governo liberar a quarentena, o consumo não vai voltar imediatamente. Essa fase não é de dois meses, é de dez. O restaurante pode não ter lucro agora, mas precisa manter fluxo de caixa ativo. O dono tem que guardar tempo para renegociar com todo mundo, do aluguel aos fornecedores.”
Uma saída para os restaurantes, que ainda não é tão comum no Brasil, é o uso das Dark Kitchens, que são um espaço que reúne marcas que trabalham apenas com delivery e têm o objetivo de dividir o mesmo lugar e, portanto, as despesas.
O fundador da Cloud Foods, empresa pioneira em implantar o sistema no mercado brasileiro, Raphael Bonzanini, explica que nada muda para o cliente, que não vê correlação entre as marcas. Para o dono do restaurante, o compartilhamento do aluguel, mão de obra e parte do estoque entre os restaurantes é vantajoso porque custos com garçom, mobiliário e ar condicionado desaparecem.
Além disso, a dedicação exclusiva para o delivery permite maior comprometimento com o que será entregue. “Geralmente o produto que é entregue para o consumidor através do delivery não é o mesmo do restaurante em quantidade e qualidade. O que a gente tenta fazer é adaptar o receituário para que cliente tenha uma experiência melhor. Os ganhos estão não só na redução de custo, como também do lado do cliente.”
Hora das compras
De acordo com o diretor de Produtos e Inovação da ValeCard, Alan Ávila, o uso do delivery também para as compras no supermercado é cada vez mais uma tendência, já que limitar o número de pessoas não está se mostrando muito assertivo.
“O uso dos aplicativos aumentou substancialmente nesse período, em alguns segmentos mais que 50%. Para se ter noção, a Uber está registrando mais pedidos de delivery do que transporte de pessoa. Acredito que isso vá ficar pós pandemia.”
Entretanto, o hábito de lavar os produtos e sacolas práticas deve ser mantido. Um estudo da Toluna, fornecedora líder de insights do consumidor sob demanda, diz que 59,5% dos entrevistados pretendem manter a medida a longo prazo.
Para quem ainda preferir ir para dentro das lojas, deve-se parar com o hábito de tocar em tudo para ler o rótulo. Para o pagamento, a mesma dica: a tendência é que se dê prioridade cada vez mais para o uso do cartão, mobile pay ou QR Code ao invés das cédulas físicas.
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