A União Europeia entrou em um momento decisivo para o futuro do bloco, pelo menos no formato em que o conhecemos atualmente. A pandemia de coronavírus esgarçou laços que já estavam começando a se soltar — e os fundadores do projeto perceberam isso.
Na prática, França e Alemanha tentam responder ao desafio jorrando dinheiro para dentro do velho continente. Muito dinheiro. A comissão europeia apresentou na quarta mais um plano de socorro financeiro para que seus integrantes se recuperem da crise.
A ideia é injetar 750 bilhões de euros nos 27 estados integrantes do bloco, sendo que 500 bilhões seriam socorro financeiro sem cobrança futura. Os outros 250 bilhões seriam destinados aos países por meio de empréstimos.
É uma mudança radical em relação a outras crises em que o bloco salvou seus integrantes, como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. Mas na crise financeira passada estes Estados tiveram que adotar agendas de austeridade pesadíssimas, além de ficar com a dívida.
Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirma que o momento é de um renascimento europeu.
O bloco pretende levantar essa cifra astronômica no mercado de capitais. A conta seria paga em 30 anos e dividida entre todos os integrantes. É claro que o plano não agradou a todos — mas os países mais endividados, como Espanha e Itália, cobravam uma ação robusta como essa.
Aqueles com as contas mais ajustadas ainda olham com alguma desconfiança para o plano e preferem o caminho dos empréstimos. A questão central, no entanto, é que a União Europeia corre sério risco de aprofundar a desigualdade entre os países-membros, o que por si só coloca o futuro do bloco em risco.
A Alemanha, de fato, deu aula nas ações de combate a pandemia — mas é preciso lembrar que o país é, de longe, o mais rico do bloco. Esse risco fez inclusive a chanceler alemã, Angela Merkel, grande bastião da austeridade europeia, mudar de ideia e apoiar o plano de socorro.
Merkel tem uma frase que é repetida ad nauseum ultimamente: a Alemanha só será próspera enquanto a União Europeia for próspera. A chanceler conservadora viu as taxas de aprovação dela e de seu partido dispararem por conta da excelente resposta dada durante a pandemia.
E esse capital político será crucial para que, ao lado de Emmanuel Macron, da França, Merkel consiga convencer os outros integrantes do bloco.
O pacote de socorro precisa ser aprovado por todos os países da União Europeia, preferencialmente nas próximas três semanas. Se as divisões internas persistirem é possível que os ânimos se acirrem ainda mais em países onde o populismo nacionalista vem prosperando de forma consistente – como por exemplo na Itália.
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