As declarações dadas tanto pelo autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e pelo ditador Nicolás Maduro mostram que “pode ter tido uma divisão clara entre os grupos” militares. A avaliação é da professora de Relações Internacionais da ESPM Denilde Holzhacker.
“É um quadro muito complexo na Venezuela. Pode ser que os militares estejam bastante divididos entre aqueles que ainda têm uma ligação ideológica com o regime Maduro e que se beneficiaram dele, e aqueles que estão percebendo que a situação está cada vez mais caótica internamente”, disse ela em entrevista ao Jornal Jovem Pan nesta terça-feira (30).
Segundo ela, é preciso entender ainda quanto Guaidó teve de apoio dos militares e se ele vai se sustentar ao longo do processo de transição. Nesta manhã, o autoproclamado presidente interino anunciou que militares “deram um passo” para se unir à oposição.
“O governo Maduro, além dos militares, tem a Guarda Nacional, que ainda é uma forte aliada, e as milícias. Então, a oposição de fato precisa da legitimidade do Exército para conseguir se contrapor ao regime de Nicolás Maduro”, explicou a professora. A crise de abastecimento, econômica e humanitária também tem forçados as forças militares a “pensar em alternativa e a viabilizar uma mudança de regime”, de acordo com ela.
A grande preocupação internacional, ressaltou a professora, é com uma possível guerra civil. “Por isso a necessidade de Guaidó ter um apoio maciço de militares e forças armadas para conter qualquer investiga que possa apoiar o regime Maduro.”
Se Guaidó conseguir derrubar Maduro, na avaliação de Denilde Holzhacker, ele terá que dar garantias internacionais, como convocar novas eleições e impedir que as forças pró-Maduro continuem mobilizando a população. “Como há um grande desgaste do regime Maduro, a sociedade também quer mudança, Guaidó, provavelmente terá apoio”.
O problema, segundo ela, é que a oposição venezuela é composta por muitos grupos distintos. “O pós [Maduro] também é de incerteza com relação a como os grupos de oposição e como eles vão lidar com essa nova fase”, disse.
Denilde Holzhacker ressaltou que esse é um momento “de muita tensão e de muitas dúvidas” e que, por isso, é preciso ver como a situação vai evoluir nas próximas horas e nos próximos dias.
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