Um policial militar de 45 anos foi preso em flagrante no sábado, 25, após atirar em um motociclista pelas costas na zona leste da cidade de São Paulo. O rapaz era suspeito de roubo, não resistiu aos ferimentos e morreu. Informações e imagens colhidas pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) apontam contradições na versão do PM, segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). A prisão ocorreu por volta das 4h20 da madrugada, na Avenida Nordestina, em São Miguel Paulista, em frente ao muro do 2ª Companhia do 29º Batalhão de Polícia Militar (BPM). No boletim de ocorrência, o caso foi registrado como homicídio simples. O nome do autor dos disparos não foi divulgado.
Em imagens de câmera de segurança obtidas pelo site de jornalismo Ponte, o homem é alvejado nas costas pelo PM. Ele diminui a velocidade, para e começa a descer da moto, enquanto olha para o policial, momento em que é baleado novamente e cai no chão. Segundos após o disparo, outros sete veículos de polícia chegam ao local. “Foi realizada perícia no local e solicitado exame necroscópico, toxicológico à vítima fatal. Foi requisitado exame residuográfico ao policial”, diz nota da secretaria.
Segundo a SSP, policiais militares avistaram uma motocicleta roubada enquanto faziam patrulhamento na região. Eles começaram a seguir o veículo, mas o motorista teria conseguido fugir até ser novamente avistado nas proximidades da 29º BPM. “Um dos policiais ao encontrar o veículo tentou abordar o suspeito que fez um movimento brusco. O agente então atirou atingindo o rapaz que caiu. O suspeito foi socorrido ao Hospital Municipal Tide Setúbal, onde morreu”, descreve nota da secretaria. O PM foi conduzido para o Presídio Romão Gomes após policiais do DHPP irem até o local dos disparos, onde “verificaram elementos e analisaram imagens, que aparentemente, contradizem com a versão do policial”. Ainda de acordo com a SSP, o dono da motocicleta afirmou ter sido roubado por dois homens, dos quais um estava armado. Um deles teria fugido em um carro, enquanto o outro saiu com a moto A vítima teria reconhecido o rapaz morto como um dos assaltantes.
Violência policial é recorde
Quinhentas e catorze pessoas foram mortas em ações da polícia de São Paulo no 1.º semestre deste ano, de acordo com dados divulgados na sexta-feira, 24, pela Secretaria da Segurança Pública do Estado. É o maior patamar semestral de letalidade policial já registrado desde 2001, início da série histórica. O recorde acontece em um contexto atípico, já que vigora desde o fim de março medidas de isolamento social que reduziram o fluxo de pessoas nas ruas.
O número deste ano é 20,6% maior do que o registrado no primeiro semestre do ano passado e representa a primeira vez em que a quantidade de mortes em ações policiais fica acima de 500 nos seis primeiros meses de um ano. O semestre anterior em que o número chegou mais perto dessa marca foi o de 2003, quando aconteceram 487 mortes. São contabilizados nesse indicador ações com pressuposto de legalidade, como nos casos em que os agentes reagem durante o atendimento de uma ocorrência.
Cabe à Polícia Civil, ao Ministério Público e à própria PM apurar se a morte de fato decorreu de intervenção legítima. Das 514 mortes deste ano, 442 tiveram autoria de um policial em serviço, enquanto nos outros 72 casos o policial estava de folga, mas ainda assim atendeu a um caso ou reagiu a um assalto, por exemplo. Em 97% dos casos, a morte é atribuída à Polícia Militar, cuja característica da atuação tem ligação com o patrulhamento nas ruas. Nos outros 3%, o autor foi um policial civil.
Especialistas chamam atenção para o fato de que a alta na letalidade policial acontece quando havia menos pessoas circulando nas ruas, em razão da pandemia, e menos crimes patrimoniais sendo cometidos, como roubos e furtos. Os roubos contra residências, comércios e pedestres, por exemplo, caíram 8% no Estado no 1.º semestre, redução que no caso dos roubos de veículos é ainda mais acentuada: 31%.
*Com Estadão Conteúdo
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