sábado, 28 de dezembro de 2019

Ninho do Urubu, Brumadinho, Amazônia e óleo: relembre as principais tragédias de 2019

2019 não foi fácil. A frase, repetida diversas vezes por aí, não poderia ser mais verdadeira. Em apenas dois meses, por exemplo, os brasileiros assistiram ao rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que matou mais de 250 pessoas, e ao incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, que terminou na morte de dez adolescentes.

Mais tarde, ainda seríamos surpreendidos por grandes tragédias ambientais, como o vazamento de óleo no litoral e as queimadas na Amazônia. E o fogo não poupou ninguém: os incêndios foram protagonistas do ano e apareceram em outras florestas pelo mundo, como nos Estados Unidos e na Austrália, e até na catedral de Notre-Dame, na França.

Relembre aqui os principais acontecimentos trágicos deste ano:

Brasil

Brumadinho, Minas Gerais

Robério Fernandes/Estadão Conteúdo

No começo do ano, o Brasil reviveu uma de suas maiores tragédias ambientais quando a barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, no interior de Minas Gerais, se rompeu, em 25 de janeiro. A barragem, que pertencia à mineradora Vale, despejou cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro pelo local.

No momento da tragédia, sirenes de segurança deveriam ter sido tocadas para alertar trabalhadores da empresa e moradores da região – o que não aconteceu. De lá para cá, já são 11 meses de buscas interruptas do Corpo de Bombeiros. De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, o último corpo foi encontrado em 3 de dezembro, totalizando, até agora, 257 mortes. Outras 13 pessoas continuam desaparecidas.

A Vale foi condenada a reparar financeiramente os danos causados. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) indiciou 13 pessoas por homicídio e lesão corporal com dolo eventual, dentre outros crimes, em seu relatório final, emitido em setembro. Até o momento, ninguém foi preso.

Ninho do Urubu, Rio de Janeiro

Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Em fevereiro, dez atletas da base do Flamengo morreram em um incêndio nos alojamentos do Ninho do Urubu, no Centro de Treinamento do time, em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. As chamas, causadas por um curto-circuito em um ar condicionado, atingiram as instalações onde dormiam os jogadores, que tinham entre 14 e 17 anos.

Outros três adolescentes ficaram feridos. Todos dormiam em contêineres interligados que, de acordo com a Prefeitura da cidade, não tinham licença para funcionar como dormitório. No dia 5 de dezembro, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que o Clube de Regatas pague pensão mensal de R$ 10 mil a cada uma das famílias das vítimas.

Amazônia

EFE

No fim do mês de julho, a divulgação de uma pesquisa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que afirmava que o desmatamento na Amazônia havia crescido 278% em relação ao mesmo período de 2018 desencadeou uma grave crise no governo. Na época, tanto o presidente da República, Jair Bolsonaro, quanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desmentiram os dados do instituto.

Bolsonaro chegou a dizer que tinha “convicção” que os números eram mentirosos, assim como Salles, que prometeu a divulgação dos “resultados verdadeiros”. O bate-boca se estendeu e terminou, em agosto, com a exoneração do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que foi, entre outras coisas, acusado por Bolsonaro de atuar “a serviço de alguma ONG” – o presidente da República acusou, mais de uma vez, as ONGs ambientalistas de serem as responsáveis pelo desmatamento por incêndios na região.

O caso ganhou repercussão internacional quando outro dado apontou o aumento de 84% dos incêndios florestais no Brasil até 23 de agosto. Segundo o Inpe, no ano, houve 78.383 incêndios na Amazônia – quase metade em agosto. Foi então que o presidente da França, Emmanuel Macron disse, em uma reunião do G7 (grupo composto pela Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), que a questão era uma “crise internacional” e precisava ser discutida por todas as nações. “Nossa casa está queimando.”

A frase do francês gerou uma enorme troca de farpas entre ele e o mandatário brasileiro, que fez a crise se estender. Outros chefes de Estado, como Angela Merkel, da Alemanha, e Donald Trump, dos Estados Unidos, também entraram na discussão, e o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) chegou a ser ameaçado algumas vezes, assim como o Fundo Amazônia, que ainda está suspenso.

Com a repercussão, alguns países ofereceram ajuda financeira ou de combate ao fogo ao Brasil. O próprio G7, por exemplo, anunciou uma doação de US$ 20 milhões, que foi recusada pelo governo brasileiro, que afirmou diversas vezes que a Amazônia é “patrimônio do Brasil” e não do mundo. Enquanto isso, Bolsonaro mobilizou as Forças Armadas para combater os incêndios e lançou a Operação Verde Brasil, que durou até o fim de outubro.

Em novembro, o Inpe divulgou novos dados sobre o desmatamento que, de acordo com a pesquisa, subiu 39,5% entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, reacendendo o debate. No dia 10 de dezembro, Bolsonaro voltou à polêmica ao chamar a ativista ambiental Greta Thunberg de “pirralha”. A jovem, de 16 anos, disse, em 8 de dezembro, que os povos indígenas do Brasil estão sendo assassinados por proteger as florestas.

Vazamento de óleo

Estadão Conteúdo

No dia 30 de agosto, manchas de óleo desconhecidas invadiram as praias do Nordeste brasileiro. O produto atingiu os nove Estados da região e acabou se espalhando, posteriormente, para o litoral do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. De acordo com o último balanço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), divulgado em 28 de novembro, 900 locais já foram atingidos pelo derramamento.

Até o momento, a Marinha não identificou os responsáveis pelo vazamento – que pode ter sido acidental, intencional ou acontecido durante uma operação ship-to-ship, em que um navio-tanque passa óleo para outro no meio do mar, ou um naufrágio de um navio petroleiro. Três inquéritos investigam o caso: um da Polícia Federal (PF), no Rio Grande do Norte, e dois feitos pela própria Marinha.

30 embarcações que passaram pela costa do Nordeste no início do derramamento foram notificadas.

Hospital Badim, Rio de Janeiro

Estadão Conteúdo

Um curto-circuito no gerador do Hospital Badim, no Maracanã, Rio de Janeiro, causou um incêndio que terminou na morte de 22 pessoas no dia 12 de setembro. Algumas delas não morreram pelo fogo, mas por complicações da própria doença causadas pela falta de energia, já que aparelhos necessários para o tratamento foram desligados.

Segundo o Badim, dos 103 pacientes envolvidos no incêndio, quatro continuam internados, 77 já tiveram alta e todos os 21 colaboradores e acompanhantes que foram hospitalizados estão em casa. Seis acordos de indenização foram fechados e 10 estão em andamento.

As causas do incêndio estão sendo investigadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Incêndios da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), criada para investigar, além do fogo no Badim, os incêndios no Ninho do Urubu e no Museu Nacional, no ano passado.

Edifício Andrea, em Fortaleza

Reprodução/Twitter

Nove pessoas morreram e sete ficaram feridas no desabamento do Edifício Andrea, em Fortaleza, capital do Ceará, em outubro. Antes da tragédia, os moradores do local já haviam demonstrado preocupação com a situação deteriorada dos pilares de sustentação localizados no piso térreo. Em imagens compartilhadas em grupos de WhatsApp, é possível observar que alguns estruturas das pilastras que sustentavam o prédio estavam expostas.

De acordo com a Polícia Civil do Ceará, mais de 40 pessoas – entre familiares dos moradores mortos no desastre, sobreviventes e funcionários do prédio, assim como trabalhadores e frequentadores do entorno – já prestaram depoimento sobre o caso. O prédio tinha sete andares e a conclusão do inquérito sobre as causas do desabamento deve acontecer no início de janeiro.

Mundo

Ciclone Idai, África

EFE

No dia 14 de março, a passagem do ciclone Idai devastou o sudeste da África. Mais de mil pessoas morreram, principalmente em Moçambique (604 mortos), local mais atingido pelo fenômeno, seguido de Zimbábue (344 mortos) e Malaui (60 mortos). Além das vítimas, mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas pelo ciclone, de ventos de mais de 140 km/h que destruíram casas, escolas e hospitais e causaram alagamentos, além de deixar a população sem comunicação ou energia elétrica.

De acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), seis meses após a passagem, 95 mil pessoas ainda estavam desabrigadas. Com as inundações, o Idai também influenciou na epidemia de cólera no continente, uma das maiores da história, que já infectou mais de 85 mil pessoas e matou 2.446 neste ano, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Notre-Dame, França, e Castelo de Shuri, Japão

EFE

Em 15 de abril, o telhado e a estrutura da catedral de Notre-Dame, em Paris, foram tomados por um incêndio. Com os esforços dos bombeiros, a agulha principal e a cúpula desmoronaram, mas grande parte do prédio resistiu ao fogo.

De acordo com a investigação, a provável causa do incêndio foi um curto-circuito, que teria começado em um elevador de um dos andaimes. Na época, a catedral estava passando por uma obra de restauração. Agora, a previsão de reconstrução das partes atingidas está programada para terminar dentro de um prazo de cinco anos.

Em outubro, outro importante edifício, o Castelo de Shuri, no Japão – declarado pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade – foi tomado pelo fogo. Ao todo, três prédios do castelo foram completamente destruídos: o Hokuden e o Nanden, duas construções secundárias, e o grande Seiden, o prédio principal. No início de dezembro, as doações para a construção do monumento já ultrapassavam 1.2 bilhões de ienes, cerca de R$ 38 mil.

Austrália

EFE

Desde 1º de julho, as altas temperaturas e ventos fortes têm castigado a Austrália com incêndios florestais. De lá para cá, o país já decretou estado de emergência e seis pessoas morreram. Além disso, cerca de 500 casas foram destruídas e 13 mil km² de terras foram destruídas – isso sem contar com as mortes de animais.

Nas últimas semanas, o fogo começou a se aproximar de Sydney. A cidade mais populosa do país ficou imersa em uma grande camada de fumaça e poluição. Enquanto muitos moradores da metrópole foram para as ruas cobrindo o rosto com máscaras para se proteger, eventos foram cancelados, assim como percursos marítimos, já que a visão está prejudicada. Nas escolas, as crianças estão confinadas dentro das salas, sem saídas ao ar livre.

Furacão Dorian, Bahamas

EFE

Neste ano, a temporada de furacões do Atlântico ficou marcada pela passagem do Dorian, em 1º de setembro. De categoria 5 e atingindo ventos constantes de até 290 km/h e rajadas de até 350 km/h, o fenômeno passou por diversos pontos da América do Norte – como Estados Unidos e Canadá -, mas foi em Bahamas que fez os maiores estragos.

Por lá, vitimou 69 pessoas e deixou mais de mil desaparecidas, de acordo com o último balanço do país, entrando para a história como um dos mais devastadores da região. Além das mortes, o fenômeno provocou destruição em casas, escolas, hospitais e diversas outras estruturas das Bahamas. Em Nassau, 5.500 pessoas foram evacuadas, e 4.861 foram registradas no Ministério de Serviços Sociais. O número de pessoas dormindo em abrigos chegou a 1.957 em 20 de setembro, mas caiu para 589 em 13 de novembro.

Califórnia, Estados Unidos

EFE

Os Estados Unidos também foram atingidos pelos incêndios florestais neste ano. Na Califórnia, onde o fogo chegou primeiro, mais de 200 mil pessoas já tiveram que deixar suas casas. As chamas destruíram 67 km², danificaram ao menos 40 casas e ameaçam outras 80 mil estruturas na região.

Para piorar, os bombeiros enfrentam mais um desafio: os incêndios simultâneos no norte e no sul do estado. Em 28 de outubro, os incêndios chegaram a Los Angeles, segunda maior metrópole dos EUA. Na data, 10 mil construções, residenciais ou não, foram evacuadas e cinco casas foram tomadas pelo fogo.

Cerca de 18 milhões de californianos vivem em áreas afetadas pelos alertas de emergência e os prejuízo no Estado já passam de um US$ 1 bilhão.

Vulcão Whakaari, Nova Zelândia

Reuters

Em 9 de dezembro, a erupção repentina do vulcão da Ilha Branca, também conhecido como Whakaari, na Nova Zelândia, matou 16 pessoas – número que ainda pode aumentar, de acordo com as autoridades locais. Isso porque, na hora da erupção, 47 turistas estavam visitando a ilha – alguns tinham deixado o local há poucos minutos.

Apesar de a última morte ter sido confirmada no dia 14 de dezembro – totalizando as 16 -, mais dois corpos ainda são procurados. Apesar de acreditar que ambos estejam mortos, a polícia ainda os considera desaparecidos e não inclui seus nomes na lista. Além disso, outras 26 pessoas feridas continuam internadas em hospitais, sendo 20 em estado grave (alguns estão com 90% a 95% dos corpos queimados).

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