O planejamento de um casamento, durante a crise do novo coronavírus, tornou-se uma bola de neve de problemas para os noivos. Uma pesquisa feita pela Icasei, plataforma de sites personalizados para matrimônios, mostra que 61% das cerimônias marcadas para o primeiro semestre deste ano foram postergadas. Entre os principais motivos para a mudança, está a preocupação com a saúde convidados em meio à pandemia.
Os médicos Marina Camillo e Maycon Barbosa estavam com a união marcada para o dia 2 de maio, mas, agora, ambos atuam no atendimento de pacientes infectados pela Covid-19. A noiva conta que em março, considerando o avanço do vírus no mundo e os primeiros casos da doença já registrados no Brasil, decidiu adiar o casamento e cancelar a lua de mel.
Para remarcar, Marina reuniu de forma online os fornecedores contratados e definiu uma nova data para o casamento, de acordo com a disponibilidade das empresas. A mudança aconteceu de forma “tranquila” e sem “grandes problemas”, segundo ela. Com a cerimônia reagendada, o casal enviou um recado aos amigos e familiares.
“A gente falou que, em razão da pandemia, nós vamos ter que adiar o nosso casamento para que a gente possa fazer em uma data em que todos possam se abraçar, se beijar e vai ser lindo do mesmo jeito. Seria muito egoísmo e muita irresponsabilidade fazer um casamento nessa data. Eu estava mais preocupada com as pessoas, com o que iriam fazer com hotel, com as passagens, mas deu tudo muito certo”, afirma a noiva, que não teve prejuízos financeiros pelo adiamento.
O estudo da Icasei aponta que, assim como Marina, 82% dos noivos não tiveram custos adicionais pela mudança nos casamentos. Entretanto, alguns casais já se preparam para eventuais reajustes nas contas. Os personal trainers Lara Gerth e Klaus von Gal, juntos desde 2009, planejavam se casar em setembro deste ano e já tinham todos os fornecedores contratados. Porém, com as incertezas para os próximos meses, eles preferiram postergar a união para que em 2021 o casamento aconteça com a presença dos convidados.
Embora a mudança tenha sido feita em consenso com as empresas contratadas, a alteração pode trazer reajustes de valores, ainda desconhecidos pelo casal. Mesmo assim, os noivos esperam que as adequações tenham um custo menor do que um possível cancelamento, que traria prejuízos de R$ 22 mil, em média.
Lara e Klaus estudam, no entanto, diminuir a lista de convidados para readequar a cerimônia ao novo orçamento de ambos, que tiveram redução de cerca de 75% no salário com a pandemia. “Não tem mais como convidar como era antes pela aglomeração, porque vai ter pequenos reajustes, que a gente não sabe de quanto será, e porque a gente não está recebendo salário.”
Consequências
Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta) mostra que 93% dos eventos sociais estão sendo adiados devido à pandemia. O presidente da associação, Ricardo Dias, afirma que o número de cancelamentos de cerimônias é baixo, já que os noivos estão optando pelo adiamento para reduzir os prejuízos.
A cerimonialista e também noiva, Thaís Monteiro, relata que a sua empresa, a Tm Produções de Eventos, teve dois casamentos cancelados e 17 adiados, até o momento. Ela explica que antes da criação da Medida Provisória nº948/2020, que aborda sobre o cancelamento de serviços, de reservas e de eventos pela pandemia, a multa por cancelamento era cobrada de acordo com cada contrato, podendo chegar a taxas de 30% a 50% dos valores já pagos pelos casais.
“Agora saiu a medida provisória que o fornecedor deve devolver o dinheiro [sem multas] dependendo do quanto ele já trabalhou. Eu, como assessora, vou calcular tudo que já trabalhei com o casal, retiro o custo, e o restante pode dividir em 12 vezes [para devolução], a partir de janeiro. Então acaba que o casal sai no prejuízo, por isso que é bacana o adiamento”, conta Thaís, que estava com o casamento marcado para o dia 1º de maio e postergou a cerimônia para 28 de novembro.
De maneira geral, a indicação é que os casais só cancelem os contratos em último caso. Além disso, para evitar problemas na véspera das cerimônias, o presidente da Abrafesta indica que os noivos façam uma “boa análise” junto com a associação para entender se os fornecedores terão condições, após a pandemia, de oferecer os serviços contratados.
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