Você acha que o Metrô para durante a madrugada só porque a cidade está dormindo? Os trens apenas interrompem o atendimento ao público, mas muita coisa acontece pelos trilhos. A Jovem Pan embarcou numa madrugada de manutenção da companhia e traz uma rotina frenética com detalhes surpreendentes.
Vai diminuindo aos pouquinhos. A medida em que a meia-noite se aproxima, o fluxo de passageiros vai caindo e as estações do Metrô se preparam para fechar as portas. Os usuários apertam o passo até o momento do aviso final.
Transportar quase 3 milhões de pessoas por dia não é tarefa fácil. Esse número corresponde à média diária de usuários das três principais linhas do Metrô em junho de 2019.
Tudo isso acontece num período que vai das 4h40 da manhã, até pouco depois da meia-noite. Fora desses horários, é realizada a manutenção. E a Jovem Pan embarca nessa viagem que os usuários não veem, mas que é muito importante para garantir o funcionamento das composições e também dos trilhos todos os dias.
Não, o Metrô não fecha as portas das estações e desliga tudo.
O ritmo durante a madrugada é frenético e pegamos a nossa primeira carona até o pátio de manutenção do Jabaquara. Vários trens enfileirados passam por uma limpeza detalhada. Numa enorme oficina, mecânicos fazem os mais diversos consertos.
Apesar do maquinário pesado, o maior número de defeitos é registrado nos mecanismos sutis de abertura e fechamento das portas, muito exigidos. Avançando mais um pouco, chegamos a um escritório onde a equipe que cuida dos trilhos se prepara para agir.
Nós vamos andar num veículo terra-via, que pode circular tanto no asfalto – com pneus de borracha – como pelos trilhos com as rodas de metal. O nosso guia é o supervisor de manutenção do Metrô, Fábio Vechi.
Ele mostra pra gente essa verdadeira oficina móvel e lembra tudo tem que estar aí dentro porque o tempo está passando. “A gente planeja mas só executa com a certeza de que a obra não vai comprometer a entrega da via e a operação comercial.”
Já eram quase duas da manhã quando chegamos ao nosso destino. O objetivo: trocar seis metros de trilho num trecho delicado entre Liberdade e Sé, perto da conexão entre as linhas 1-Azul e 3-Vermelha. A força-tarefa se armou rapidamente e fez a medição e o corte do local a ser reparado.
Fábio explica em tempo real essa operação que exige um esforço concentrado. “Uma operação que requer sincronismo dos mecânicos para retirada da barra para que não sobrecarregue ninguém.”
O trilho novo é colocado, parafusado e preparado para a solda. Os funcionários montam um recipiente que será aquecido e vai receber uma mistura de óxido de alumínio e óxido de ferro. A reação gera um calor de 2500ºC, que permite a soldagem do trilho.
Às três e meia da manhã as equipes que realizaram a troca dos trilhos estão terminando o serviço. Foi um trabalho pesado, que incluiu a troca em altíssima temperatura da solda.
tudo isso começou de uma maneira bem sutil. O Metrô dispõe de técnicos que olham solda por solda com o auxílio do ultrassom. O mesmo ultrassom utilizado em mulheres grávidas, por exemplo também é aplicado no metal.
É um trabalho delicado, que verifica as ligações ao longo de uma escala. O técnico aplica o gel, passa a sonda e observa os resultados num gráfico.
A madrugada já está acabando.
É preciso finalizar o serviço e liberar a área porque, daqui a pouco, o dia começa de novo. O supervisor da manutenção, Fábio Vechi, explica que só daria pra ter um Metrô 24 horas se o serviço tivesse mais linhas à disposição.
“A gente não tem espaço, uma malha, uma outra via paralela que permita que a gente segregue trechos para que ocorram a manutenção. Precisamos dessa janela para garantir segurança aos usuários.”
Quatro e quinze da manhã, o veículo de manutenção acabou de deixar a nossa equipe na estação Paraíso. Daqui a pouco, os trens voltam a circular, 4h40, indo até meia-noite e pouco.
Depois disso, a manutenção começa de novo e se reinicia um ciclo, como o vai-volta dos trens do Metrô, que acontece todos os dias.
*Com informações do repórter Tiago Muniz
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