Recentemente a decisão da família do apresentador Gugu Liberato, que foi muito elogiada nas redes sociais, reacendeu o debate sobre a doação de órgãos. No entanto, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), cerca de 43% das famílias brasileiras não autorizam a doação de órgãos de pacientes com morte encefálica.
Em entrevista à Jovem Pan, o médico hepatologista e coordenador do serviço de transplante hepático do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini, João Luiz Farias, explica o processo no País: “No Brasil é permitida a doação de córneas, coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, ossos, pele e medula – isso pode salvar a vida de até oito pessoas.”
Segundo a ABTO, um fator que reforça as estatísticas de negativa das famílias é a falta de diálogo sobre a morte – que ainda é considerado um assunto pouco discutido nas casas brasileiras. No país, mesmo que seja uma vontade demonstrada em vida pelo paciente, são os parentes que decidem sobre os órgãos do ente querido.
Esse tabu, quando superado, pode salvar vidas como a de Bruna Rosa. Ela recebeu um rim em 2013 e sonha em concluir o curso de Enfermagem para “cuidar dos pacientes com muito carinho” – assim como cuidaram dela em oito anos de hemodiálise, tempo que esteve na fila para conseguir o órgão após descobrir um doença congênita aos 22 anos. Seu doador era um homem de 21 anos que teve a morte encefálica declarada pelos médicos.
Atualmente, a lista de espera por um órgão ou tecido tem 39.663 pessoas, de acordo com a ABTO. A Associação afirma que, em 2018, foram realizados 22.668 transplantes.
Segundo o Ministério da Saúde, 96% dos procedimentos realizados no Brasil são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso coloca o país, em números absolutos, como o 2º maior transplantador do mundo – atrás apenas dos EUA.
Em setembro, o Ministério iniciou uma campanha – A Vida Continua. Doe Órgãos. Converse com sua família – para incentivar tanto o diálogo quanto a doação de órgãos.
A falta de conhecimento sobre a irreversibilidade do quadro de morte encefálica também causa insegurança aos familiares em autorizar a doação, porque ainda esperam uma melhora do paciente.
O hepatologista João Luiz Farias, porém, afirma que o diagnóstico registra “a interrupção irreversível das atividade cerebrais”. “Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo, quando ele morre significa também a morte do indivíduo”, declara.
Ou seja, a falta de atividade no cérebro não pode ser recuperada sob nenhum tipo de tratamento.
PL pode mudar entendimento sobre o tema
Tramita no Senado Federal um Projeto de Lei (PL 3.176/2019) proposto pelo senador Major Olímpio (PSL-SP) que prevê revisar a legislação que regulamenta a doação pós-morte.
A decisão colocaria o ato de doar órgãos após morte encefálica como presumido, ou seja, uma pessoa maior de 16 anos será considerada doadora até que se prove o contrário – independentemente da posição da família.
A ideia é tornar a decisão pessoal registrada nos documentos de identificação dos brasileiros, como no RG. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) também seria notificado por meio de um cadastro.
Agora, a proposta aguarda relator na Comissão de Constituição e Justiça, que deve votá-la em caráter terminativo.
De acordo com a Agência Senado, “se aprovada sem recurso para votação em Plenário ou em outras Comissões, ela seguirá para a Câmara dos Deputados”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário