quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Cura para Alzheimer, diabetes, câncer e até depressão pode estar no DNA

Alzheimer, diabetes, câncer e até depressão. Essas males, ainda incuráveis, atingem milhões de brasileiros ao longo de gerações. Buscar a cura ou simplesmente uma forma de amenizar essas doenças envolve bilhões em pesquisa e cientistas renomados pelo mundo. Para muitos deles, a resposta pode estar no DNA.

Uma iniciativa inovadora no Brasil promete incluir a população do país no cenário das pesquisas genômicas globais. Coordenado por Lygia da Veiga Pereira, chefe do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, o projeto DNA do Brasil pretende sequenciar o genoma completo de aproximadamente 15 mil brasileiros, entre 35 e 74 anos.

Os participantes são funcionários públicos que já fazem parte do Elsa (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que monitora a saúde dos trabalhadores de seis capitais brasileiras desde 2008. Agora, os dados clínicos de saúde dessas pessoas serão combinados aos dados genéticos, garantindo maior precisão aos diagnósticos. Segundo ela, o Brasil é marcado pela miscigenação de diferentes povos, incluindo indígenas, europeus, asiáticos e africanos, o que garantiu diversidade ao DNA brasileiro.

Lygia diz ser possível entender quais são as variações genéticas que estão associadas ao risco de desenvolver doenças crônicas, dando esperança aos pacientes. “Esse banco de dados que a gente está gerando vai, imediatamente, ajudar a turma que está fazendo diagnósticos de questões genéticas, ajudando eles a interpretar os resultados desses diagnósticos. Então o que muda, agora, é a escala do nosso conhecimento sobre a nossa população. A gente tinha um conhecimento muito superficial sobre a variação genética no Brasil, e agora teremos um número representativo de brasileiros sequenciados para termos um banco de dados realmente significativo”, explica.

Com o DNA do Brasil, também será possível identificar a pré-disposição as doenças, respostas aos medicamentos e levar ao desenvolvimento de novas terapias. Parceira de Lygia na coordenação do projeto, a cientista Tábita Hünemeier afirma que o DNA do Brasil pode revolucionar, também, o entendimento sobre a formação das populações ancestrais.

“A gente quer fazer alguns resgastes históricos porque, dos três ou quatro milhões de indígenas que estavam aqui, a gente tem, hoje, 400 mil. Eles não desapareceram completamente, a gente tem resquícios deles quando falamos em 10% ou 7% de ancestralidade indígena que sobrevive na população de São Paulo, do Rio de Janeiro. Essa ancestralidade é representativa desses indivíduos que desapareceram. Então a gente pode resgatar esses indivíduos de alguma maneira”, comemora.

Para os próximos anos, a estimativa é mapear entre 100 e 200 mil genomas de brasileiros. O financiamento para sequenciar o genoma completo dos primeiros três mil brasileiros, que correspondem a etapa inicial do projeto, vem da iniciativa privada. Segundo Lygia, para dar sequência ao trabalho, porém, serão necessários mais recursos e novos parceiros.

“Uma parceria com a indústria farmacêutica nacional seria bárbaro, porque nós sabemos fazer pesquisa básica, sabemos fazer isso, mas chega um momento em que a nossa capacidade também é limitada. Eles que são melhores, em geral, em pegar um conhecimento novo e transformar num produto”, explica.

A cientista ressalta que esses avanços não podem ficar restritos ao ambiente acadêmico. Segundo Lygia, o Ministério da Saúde já sinalizou interesse na expansão do projeto. Para que a medicina brasileira seja mais precisa, eficaz e de menor custo, a pesquisadora ressalta a importância da manutenção de bolsas de estudo para o desenvolvido de projetos científicos no país, como o DNA do Brasil.

“Eu não sei se a população entende que esses alunos são a nossa mão de obra. Isso não é um luxo, a bolsa de estudos para um aluno de pós-graduação é a forma da pessoa se sustentar enquanto ela estuda e trabalha para a gente. Eu não sei qual foi a última vez que eu sentei na bancada e abri um tubo, são sou mais eu quem faz isso, são esses alunos”, explica.

Após a conclusão dos primeiros três mil genomas, em um prazo de seis meses, o banco de dados já estará disponível para uso exclusivo dos pesquisadores. A estimativa é que os 15 mil genomas sejam sequenciados em um prazo entre 18 e 24 meses.

*Com informações da repórter Letícia Santini

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