Dividir para conquistar é uma velha tática política existente desde os tempos do Império Romano. Mas, na era da pós-verdade, a surrada estratégia ganhou contornos dramáticos até nas democracias ditas maduras, como a do Reino Unido.
Os britânicos estão de ressaca moral com tudo o que ocorreu no Parlamento durante a retomada de suas atividades na quarta passada, dia 25. Mas o país que abrigou Sigmund Freud ao menos parece disposto a deitar no divã para entender o que está ocorrendo e como baixar o tom.
A retórica incendiária, adotada pelo primeiro-ministro Boris Johnson, é questionada até mesmo por integrantes do partido dele.
Como disse na quinta-feira (26) o ex-primeiro-ministro John Major, sucessor de Margareth Thatcher, palavras como sabotagem, inimigos, rendição e traição não deveriam ter espaço no debate político e muito menos na sociedade como um todo.
Porém, são estes os termos que têm sido utilizados por oposicionistas, governistas e, ainda mais alarmante, pelo próprio primeiro-ministro.
Na quinta, Boris Johnson baixou o tom ao perceber que a sessão na Câmara dos Comuns teve uma repercussão amplamente negativa. Ainda assim, manteve a retórica desafiadora e agressiva – típica de quem está encurralado e precisa manter a base em alerta. É uma estratégia comum a tantos outros líderes ao redor do mundo ultimamente.
Voltando a citar John Major, “é uma tática que utiliza linguagem altamente emocional; que provoca medo e raiva, além de alimentar a descrença contra o Parlamento e a lei.”
A tática pode ser eficiente, no curto prazo, para vencer uma eleição. Mas traz danos permanentes para a sociedade e, sobretudo, para o partido conservador. A oposição, por sua vez, também não tem colaborado e adota posturas semelhantes para denunciar os adversários.
Assim o Reino Unido mergulha numa crise de sociedade que é profunda – e, infelizmente, reflexo do que está ocorrendo em tantas outras sociedades ocidentais.
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