O conteúdo da denúncia anônima registrada contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump foi divulgado nesta quinta-feira (26) – um dia após ser entregue aos congressistas. O documento é o relato de um agente de inteligência dos EUA sobre as múltiplas tentativas do presidente americano de pedir ajuda estrangeira na eleição de 2020 e o esforço da Casa Branca para abafar o caso.
Nesta quinta, o chefe do Diretório de Inteligência Nacional (DNI), Joseph Maguire, indicado por Trump para o cargo, prestou depoimento ao Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados e defendeu o autor da denúncia anônima. “Acho que o delator fez a coisa certa e agiu de boa-fé, seguindo a lei”, afirmou.
O escândalo obrigou a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, a abrir um inquérito para viabilizar o impeachment de Trump. Apesar da gravidade do caso, a presidência de Trump não está ameaçada – por enquanto. O processo precisa ser aprovado pela maioria dos deputados e a destituição teria de obter 67 votos entre 100 senadores – os democratas têm apenas 47.
Nesta quinta, a oposição obteve esses votos na Câmara. Segundo estimativa da revista Time, 220 deputados já apoiam o impeachment, entre eles Justin Amash, ex-republicano que deixou o partido recentemente. Para aprovar o processo, os democratas precisariam de 218 votos. O problema de Trump é que a investigação sobre abuso de poder e obstrução de Justiça está no início.
A primeira peça do quebra-cabeça foi o telefonema ao presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em 25 de julho, em que o presidente pede ajuda para investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, que lidera a corrida presidencial de 2020, segundo todas as pesquisas. Os líderes negaram irregularidades nas conversas.
No documento recebido pelos congressistas, um agente de inteligência dos EUA acusa o presidente de pedir ajuda estrangeira para obter informações comprometedores de um adversário.
O agente – não identificado – relatou diversas conversas que teve com funcionários e assessores, dos quais ouviu acusações de que Trump estaria usando o cargo para obter vantagens eleitorais Em agosto, ele protocolou a queixa junto ao inspetor-geral, Michael Atkinson, que teria feito contato com as testemunhas e concluído que o caso era “crível” e “urgente”.
O caso foi enviado ao DNI, chefiado por Maguire. Mas, em vez de entregar a denúncia ao Congresso, como manda a lei, Maguire buscou “conselho legal” com o Departamento de Justiça, comandado por William Barr, fiel aliado de Trump. Quando percebeu que a Casa Branca estaria obstruindo o processo, Atkinson foi direto ao Congresso, em setembro – e o escândalo se tornou público.
A denúncia divulgada nesta quinta mostra que Barr, e o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, foram peças centrais na tentativa de obter ajuda da Ucrânia para investigar Biden. Giuliani, ex-prefeito de Nova York, é acusado de “montar” uma filial paralela do Departamento de Estado para tratar de assuntos de interesse pessoal do presidente.
Reação
Imediatamente, a Casa Branca partiu para ofensiva e prometeu resistir a “histeria” dos democratas. “Nada mudou com a publicação desse relatório, que nada mais é que uma compilação de relatos de terceiros de eventos e recortes de imprensa improvisados”, disse a porta-voz de Trump, Stephanie Grisham.
Uma reportagem do New York Times afirma que o delator seria um alto funcionário da CIA. Segundo o jornal, ele teria trabalhado na Casa Branca, mas já havia regressado à agência. Os advogados do denunciante advertiram que revelar detalhes de sua identidade poderia colocá-lo em perigo.
Obstrução de Justiça
Um dos pontos mais comprometedores da denúncia anônima é o relato de que assessores do presidente, alarmados com o telefonema entre Trump e Zelenski, ocultaram registros da ligação. Advogados da Casa Branca retiraram a transcrição da conversa do sistema geral e passaram para um outro servidor reservado para assuntos secretos – o que seria prova de obstrução de Justiça.
*Com Estadão Conteúdo
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